segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Como sempre acontece...


Ela espera ansiosamente ao lado do telefone, a fim de que ele toque. O relógio marca três da tarde e ele disse que ligaria a essa hora, então porque demora tanto? Se ele diz que ligaria as três porque demora um minuto a mais para fazê-lo? Ela começa a caminhar de um lado para o outro, lembrando-se que atrasos são comuns e que isso acontece com todos. Ela mesma já chegou atrasada a vários compromissos, não seria diferente com ele.

Ela checa o relógio novamente. Três e meia. Suposições mirabolantes passam pela sua cabeça. Ele não pode simplesmente ter esquecido. Meia hora é tempo mais do que suficiente para chegar em casa, pegar o telefone e discar seu número. Ele poderia ter ficado preso no trânsito, não poderia? Mas pra quê diabos serve o celular?!

Ela vai até a cozinha, abre a geladeira, olha dentro da mesma como se estivesse procurando respostas. Não as acha. Volta a olhar no relógio. Já se passaram dez minutos. Talvez ele tenha sofrido algum acidente. É bem provável. Ele não deixaria que ela esperasse dez minutos em frente a um telefone. Mas como ele poderia saber que ela esperaria tanto um telefonema seu? Ela resolve esquecer. Vai até seu quarto, jogando-se em sua cama e virando de todas as posições possíveis. Pelo amor de Deus, são três horas e quarenta e cinco da tarde, não é hora de dormir!

O telefone toca. Ela sai correndo, desesperada, até a sala, esquecendo-se que havia uma extensão em seu quarto.

- Alô? – ela diz, se recompondo.
- Gostaria de saber se a Lúcia está em casa?
- Aqui não tem nenhuma Lúcia. – ela responde impaciente.
- Desculpe, foi engano.

Ela bate o telefone no gancho, irritada pela pessoa que acabara de ligar ter tomado quase um minuto do seu tempo. Ele poderia ter tentando ligar nesse meio tempo, não poderia? Ela se lembra da chamada em espera. Mesmo que ele tentasse ligar, ela saberia. O relógio agora marca quatro horas. Uma hora é tempo demais, não é? Ela resolve ligar. Tira o telefone do gancho, mas pára no meio do caminho. Seu orgulho nunca permitiria que ela fizesse isso. Ele prometera que ligaria então ele que ligasse. E ele bem que poderia estar ao lado do telefone, olhando pro relógio, rindo até não querer mais da cena patética que estava se desenrolando ali. Ou ele poderia estar com outra mulher na casa dele, pensando no quão ingênuas todas elas eram, pensando que o ‘cara’ ligaria no dia seguinte. Mas ele não era ‘o cara da noite anterior’. Bufou, enraivecida, e sentou-se no sofá, pela milésima vez naquela tarde.

Enquanto seus dedos tamborilavam na mesinha de telefone, permitia-se pensar em o quão tolas as mulheres eram. Bom, nem todas. Ela imaginava que isso só poderia ser fruto da paixão, porque não existia cena mais humilhante do que uma mulher se descabelando porque o amor da sua vida não ligou na hora marcada, ou nem sequer ligou. Em pensar que essa cena se repete todos os dias, em todos os lugares prováveis.

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